quarta-feira, 22 de maio de 2013



Stress? Pare, medite e envelheça com qualidade!
Ana Margarida Nunes
2012-08-02

Meditar faz bem, ficas tranquila»
Penso que já muitos de nós vivenciaram situações de algum stress físico ou emocional, quer pela morte de um ente querido ou pelo acumular de tarefas no trabalho que parecem impossíveis de concretizar, quer pelo atraso a ir buscar os miúdos à escola e todos os sinais ficam vermelhos, ou porque fomos vítimas de traumas difíceis de superar. O certo é que o stress parece estar cada vez mais disfarçado ao ponto de quase nos habituarmos a ele sem nos lembrarmos de como era a vida sem ele!

No entanto, também já muitos de nós terão ouvido uma frase parecida com “meditar faz bem ao stress, ficas tranquilo”. E quantos de nós chegaram realmente a experimentar? A verdade é que quem pratica meditação com alguma regularidade sente-se bem, mais tranquilo, mais energizado, mais motivado e com maior capacidade de concentração. Mas porquê? 

Estudos recentes sugerem que a mais simples das meditações que consiste apenas em ouvir os sons que nos rodeiam ou o som da nossa respiração, a chamada “mindfullness”, quando praticada 40 min diariamente, durante 8 semanas, é suficiente para alterar determinadas regiões do cérebro e “limpar” a mente.

De entre estas regiões temos o hipocampo, que é responsável pela memória e aprendizagem, e a amígdala, que é responsável pela ansiedade e o stress. Mas não são os neurónios que nascem ou morrem. O que acontece é que existe uma proteína chamada mielina, semelhante a uma fibra, que aumenta ou diminui nas tais regiões do cérebro. A mielina, quando vista ao microscópio, é branca e a ela se deve o nome de massa branca contrastando com a massa cinzenta.


A mielina protege uma porção do neurónio, o axónio, garantindo que este transporta corrente ao próximo neurónio sem perdas pelo caminho
A mielina protege uma porção do neurónio, o axónio, garantindo que este transporta corrente ao próximo neurónio sem perdas pelo caminho! Assim como um cabo de borracha protege o fio elétrico para que tenhamos luz. Tal como existe desgaste dos cabos de luz com o passar dos anos, também a mielina se vai desgastando durante o nosso envelhecimento implicando perda de qualidade de vida. E o stress é um dos fatores implicados na perda de qualidade de vida pois impede-nos de disfrutar.

O que parece acontecer quando meditamos é que acionamos o hipocampo e a amígdala para uma performance máxima. Quase que por “afinação”, ganhamos mais capacidade de aprendizagem, mais concentração, e menos stress, pois a meditação regulariza a respiração. Com a meditação, respiramos mais corretamente, levamos mais oxigénio aos pulmões e ao cérebro e reduzimos qualquer ansiedade.

Se apenas durante oito semanas de meditação já se verificam aumentos de massa branca, para quem medita durante anos as alterações que ocorrem no cérebro tornam-se mais estáveis. Envelhecemos com maior qualidade!

Estas descobertas, além de servirem para satisfazer a nossa curiosidade, são muito importantes para desvendar um pouco mais acerca das doenças relacionadas com o stress, como o stress pós-traumático. E não nos devemos nunca esquecer que por detrás destas descobertas estão muitos investigadores que trabalham arduamente e que passam por muitos momentos de frustração e stress onde nada no laboratório parece funcionar, mas que pela força e persistência continuam e descobrem algo de novo!

* Licenciada em Biologia Microbiana e Genética pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e doutorada em Neurociências pelo King's College London em 2009. 

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